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domingo, 22 de maio de 2011

VOCÊ CONHECE A ESCOLA DO ANO 2000?




Image in Buckingham: 'Beyond Technology - Children Learning in the Age of Digital Culture'.





Essa é a classe que 1899 Jean Cote's imagina para o ano 2000. Um professor transmitindo livros aos alunos por uma espécie de moedor de livros conectado a suas cabeças. Isto mostra a longa história da fantasia da tecnologia sobre a educação.

Logicamente, não chegamos a isso, e apesar das TIC's (Tecnologias da  Informação) estarem aí a serviço da educação, precisamos nos lembrar que estamos longe de resolver o problema de muitas escolas que sequer contam com banheiros, quanto mais com computadores.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

VAMOS BANDALARGAR O BRASIL

VOCÊ SABE O QUE É UM SOFTWARE LIVRE?

INTEGRAÇÃO DAS TIC's NA FORMAÇÃO DOCENTE

Gostaria de compartilhar com todos que me seguem e lêem minhas postagens, alguns conhecimentos que adquiri durante o seminário que presenciei intitulado "Políticas públicas e tecnologias digitais", com Nelson Pretto.

Hoje em dia é de suama importância a investigação e integração das práticas TIC's na formação de professores. Os desafios do digital, as redes sociais e a proliferação da informação são temas de ponta. Hoje, o ativismo das pessoas diante das mídias, a questão da autoria, são questões que estão nas pautas das discussões sobre tecnologias. Hoje, você é o que você compartilha.

Durante a década de 50, surgem os primeiros computadores e máquinas de cálculo. A Arpanet e em 1969 é a vez do nascimento da internet. Em 1995, explode sua demanda comercial.

Refletindo sobre os avanços tecnológicos em políticas públicas nos campos da educação, cultural, científico entre outros, observa-se a necessidade de uma banda larga de qualidade no Brasil. Algumas reformas como LDA, o movimento bandalargar o brasil, vem na concepção de que nossa internet é lenta e cara.

A expansão das universidades públicas com sua interiorização através sobretudo da EAD, requer banda larga de qualidade. Além disso, é necessário o conhecimento do termo software livre, como uma perspectiva colaborativa fundamental  para a educação. Nele, pode-se mexer no código fonte.

Você sabe o que é copyleft? O software livre vem na perspectiva do "deixe copiar".

Quando se fala em Hacker, muita gente vê esse termo com receio. Mas Cracker é o termo que deveria dar receio às pessoas. O Hacker e a ética hacker são temas abordados, onde a generosidade e a colaboração é que estão em pauta. Segundo esse ponto de vista, computador, internet, não é ferramenta, mas espaço social.

"As redes sociais permitem práticas colaborativas e a formação de uma economia da dádiva (gift economy), cujas maiores expressões são o movimento de softwares. O

A articulação entre educação e cultura se faz necessária e por isso temos de pensar  na liberdade de criar. Aí entra a questão dos direitos autorais. O creative commons é uma forma de liberar juridicamente as obras.

A Escola tal como é pega as nossas diferenças e vai afunilando para ver se sai tudo igual. Na escola fortalecida, somos atores mas também autores. O currículo hipertextual deve ser fortalecido nas escolas e os professores devem ter formação e ativismo pela inclusão desses processos. O novo milênio demanda artesania numa rede colaborativa. Será a valorização do professor resgatada. Um intelectual respeitado, para isso, retomando a liderança acadêmica, política, nos processos, sendo um negociador das diferenças.

A VOZ DO PROFESSOR



Apesar de ser do Rio Grande do Norte, a fala da professora representa a voz de milhares de professores em todos os estados brasileiros. A precarização da profissão docente, a desvalorização da profissão, o sentimento de frustração diante desse quadro. Por isso, é necessário que a educação e a profissão estejam no centro da discussão e das políticas públicas de valorização.

O discurso econômico de que o salário não tem relação com a qualidade da educação, é mais uma falácia para minimizar os custos do Estado com a Educação. Estado este que vale da lógica: faça mais com menos!

terça-feira, 10 de maio de 2011

A VIOLÊNCIA ESCOLAR


O ano de 2010 e o início de 2011 foram marcados por notícias trágicas envolvendo violência intramuros da escola. Longe de ser uma realidade apenas no Brasil, o fato é que tais acontecimentos têm lugar até mesmo em países desenvolvidos. Apesar de haver correntes que defendem que a raiz do problema está no fato das próprias escolas abrigarem a violência por agirem com autoritarismo, outros fatores podem ajudar a entender porque ela acontece.

A escola é uma instituição, que possui regras, normas e hierarquia. Antes de servir para restringir a liberdade, tais normas servem à organização, ao respeito ao direito do outro, ao cumprimento do dever, e à própria manutenção da ordem e do serviço. No entanto, a escola tem sido destituída de seu poder coercitivo pela própria norma. As ideias propagadas de fazer da escola um lugar de prazer, através de recursos lúdicos e formas diversas, não têm surtido efeito, e ainda resultam numa perda de identidade da escola, que tem sido de tudo, mas cujo sentido inicial tem sido esquecido: a escola é lugar de ensinar e aprender. 

Somado à perda de identidade da escola, e por consequencia de seus atores, temos a violência manifestadas nas ruas e na mídia, famílias desestruturada, falta de perspectiva dos alunos em relação à escola e ao futuro, e seu consequente hedonismo.

Temos ainda uma mídia que propagandeia uma instituição escolar que difunde o consumismo como ideia de felicidade e uma realidade escolar longe das escolas "reais". 

A desigualdade de renda, o fosso entre os ricos e os pobres, a falta de perspectivas dos jovens, a perda da autoridade da escola, são alguns sinais da crise escolar que vivenciamos hoje.

Sem saber lidar com a situação, destituídos de autoridade pelos conselhos tutelares, a escola acaba precisando buscar reforço na polícia.  O que antes era considerado como lugar seguro, para deixar os filhos, virou um local inseguro. 

Os alunos, que já consideravam a escola como prisão, terão essa visão ampliada pelo reforço da polícia nas instituições.

Os próprios professores estão saindo da docência, e o governo agora precisa incentivar a busca por cursos de licenciatura.

Soluções "in locus" são pertinentes, como a discussão sobre lugar e não lugar, direitos e deveres, ética, espaço público e privado, dentre outros. Mas para tocar nessas questões é preciso ter autoridade, autoridade que vem pelo respeito.

Que pai que age de forma desregrada será respeitado por seu filho? Da mesma forma, a imagem da escola precisa ser levantada como instituição de autoridade e respeito, lugar de conhecimento e esperança no futuro.

Mas ela sozinha não é o suficiente para equacionar esse problema. Isso demanda soluções e políticas sociais de maior âmbito e impacto. A recuperação da imagem da escola é condição necessária para a valorização dessa instituição. Parece no entanto, que a educação e a noção de quase-mercado, têm caminhado em direção oposta. Pode-se repensar esse direcionamento.

Finalmente, é necessário normatizar melhor o que a mídia divulga para a população jovem e para as crianças. Afinal, nos tempos atuais, com pai e mãe trabalhando fora, quem está educando as crianças é a televisão, e justamente na TV aberta, os programas direcionados à educação passam nas horas mais inadequadas, normalmente muito cedo. 

Ou tomamos medidas drásticas, ou teremos adultos que passaram pela educação globalizadora, capitalista e consumista, cujo ideal de felicidade é possuir tal ou qual roupa, ter o cabelo do ator X, o a boca da atriz y e por aí vai...

Para fechar essa seção, é fato a pensar que os jovens de hoje não tem um ideal ou uma referência. Quem são os referenciais de hoje? Um grupo de roqueiros que faz apologia às drogas, uma cantora que se exibe quase nua, políticos corruptos, e reeleitos. Afinal, a memória desse povo é curta... A maioria também, já está satisfeita com o pão e o circo. 

Aguardo comentários! Acorda BRASIL!





CONTO DE ESCOLA

Espero que gostem e reflitam!
                             





A Escola era na Rua do Costa, um sobradinho de grade de pau. O ano era de 1840. Naquele dia — uma segunda-feira, do mês de maio — deixei-me estar alguns instantes na Rua da Princesa a ver onde iria brincar a manhã. Hesitava entre o morro de S. Diogo e o Campo de Sant’Ana, que não era então esse parque atual, construção de gentleman, mas um espaço rústico, mais ou menos infinito, alastrado de lavadeiras, capim e burros soltos. Morro ou campo? Tal era o problema. De repente disse comigo que o melhor era a escola. E guiei para a escola. Aqui vai a razão.    Na semana anterior tinha feito dous suetos, e, descoberto o caso, recebi o pagamento das mãos de meu pai, que me deu uma sova de vara de marmeleiro. As sovas de meu pai doíam por muito tempo. Era um velho empregado do Arsenal de Guerra, ríspido e intolerante. Sonhava para mim uma grande posição comercial, e tinha ânsia de me ver com os elementos mercantis, ler, escrever e contar, para me meter de caixeiro. Citava-me nomes de capitalistas que tinham começado ao balcão. Ora, foi a lembrança do último castigo que me levou naquela manhã para o colégio. Não era um menino de virtudes.    Subi a escada com cautela, para não ser ouvido do mestre, e cheguei a tempo; ele entrou na sala três ou quatro minutos depois. Entrou com o andar manso do costume, em chinelas de cordovão, com a jaqueta de brim lavada e desbotada, calça branca e tesa e grande colarinho caído. Chamava-se Policarpo e tinha perto de cinqüenta anos ou mais. Uma vez sentado, extraiu da jaqueta a boceta de rapé e o lenço vermelho, pô-los na gaveta; depois relanceou os olhos pela sala. Os meninos, que se conservaram de pé durante a entrada dele, tornaram a sentar-se. Tudo estava em ordem; começaram os trabalhos. — Seu Pilar, eu preciso falar com você, disse-me baixinho o filho do mestre.    Chamava-se Raimundo este pequeno, e era mole, aplicado, inteligência tarda. Raimundo gastava duas horas em reter aquilo que a outros levava apenas trinta ou cinqüenta minutos; vencia com o tempo o que não podia fazer logo com o cérebro. Reunia a isso um grande medo ao pai. Era uma criança fina, pálida, cara doente; raramente estava alegre. Entrava na escola depois do pai e retirava-se antes. O mestre era mais severo com ele do que conosco. — O que é que você quer? — Logo, respondeu ele com voz trêmula.    Começou a lição de escrita. Custa-me dizer que eu era dos mais adiantados da escola; mas era. Não digo também que era dos mais inteligentes, por um escrúpulo fácil de entender e de excelente efeito no estilo, mas não tenho outra convicção. Note-se que não era pálido nem mofino: tinha boas cores e músculos de ferro. Na lição de escrita, por exemplo, acabava sempre antes de todos, mas deixava-me estar a recortar narizes no papel ou na tábua, ocupação sem nobreza nem espiritualidade, mas em todo caso ingênua. Naquele dia foi a mesma coisa; tão depressa acabei, como entrei a reproduzir o nariz do mestre, dando-lhe cinco ou seis atitudes diferentes, das quais recordo a interrogativa, a admirativa, a dubitativa e a cogitativa. Não lhes punha esses nomes, pobre estudante de primeiras letras que era; mas, instintivamente, dava-lhes essas expressões. Os outros foram acabando; não tive remédio senão acabar também, entregar a escrita, e voltar para o meu lugar.    Com franqueza, estava arrependido de ter vindo. Agora que ficava preso, ardia por andar lá fora, e recapitulava o campo e o morro, pensava nos outros meninos vadios, o Chico Telha, o Américo, o Carlos das Escadinhas, a fina flor do bairro e do gênero humano. Para cúmulo de desespero, vi através das vidraças da escola, no claro azul do céu, por cima do morro do Livramento, um papagaio de papel, alto e largo, preso de uma corda imensa, que bojava no ar, uma cousa soberba. E eu na escola, sentado, pernas unidas, com o livro de leitura e a gramática nos joelhos. — Fui um bobo em vir, disse eu ao Raimundo. — Não diga isso, murmurou ele.    Olhei para ele; estava mais pálido. Então lembrou-me outra vez que queria pedir-me alguma cousa, e perguntei-lhe o que era. Raimundo estremeceu de novo, e, rápido, disse-me que esperasse um pouco; era uma coisa particular. — Seu Pilar... murmurou ele daí a alguns minutos. — Que é? — Você... — Você quê?    Ele deitou os olhos ao pai, e depois a alguns outros meninos. Um destes, o Curvelo, olhava para ele, desconfiado, e o Raimundo, notando-me essa circunstância, pediu alguns minutos mais de espera. Confesso que começava a arder de curiosidade. Olhei para o Curvelo, e vi que parecia atento; podia ser uma simples curiosidade vaga, natural indiscrição; mas podia ser também alguma cousa entre eles. Esse Curvelo era um pouco levado do diabo. Tinha onze anos, era mais velho que nós.    Que me quereria o Raimundo? Continuei inquieto, remexendo-me muito, falando-lhe baixo, com instância, que me dissesse o que era, que ninguém cuidava dele nem de mim. Ou então, de tarde... — De tarde, não, interrompeu-me ele; não pode ser de tarde. — Então agora... — Papai está olhando.    Na verdade, o mestre fitava-nos. Como era mais severo para o filho, buscava-o muitas vezes com os olhos, para trazê-lo mais aperreado. Mas nós também éramos finos; metemos o nariz no livro, e continuamos a ler. Afinal cansou e tomou as folhas do dia, três ou quatro, que ele lia devagar, mastigando as idéias e as paixões. Não esqueçam que estávamos então no fim da Regência, e que era grande a agitação pública. Policarpo tinha decerto algum partido, mas nunca pude averiguar esse ponto. O pior que ele podia ter, para nós, era a palmatória. E essa lá estava, pendurada do portal da janela, à direita, com os seus cinco olhos do diabo. Era só levantar a mão, despendurá-la e brandi-la, com a força do costume, que não era pouca. E daí, pode ser que alguma vez as paixões políticas dominassem nele a ponto de poupar-nos uma ou outra correção. Naquele dia, ao menos, pareceu-me que lia as folhas com muito interesse; levantava os olhos de quando em quando, ou tomava uma pitada, mas tornava logo aos jornais, e lia a valer.    No fim de algum tempo — dez ou doze minutos — Raimundo meteu a mão no bolso das calças e olhou para mim. — Sabe o que tenho aqui? — Não. — Uma pratinha que mamãe me deu. — Hoje? — Não, no outro dia, quando fiz anos... — Pratinha de verdade? — De verdade.    Tirou-a vagarosamente, e mostrou-me de longe. Era uma moeda do tempo do rei, cuido que doze vinténs ou dous tostões, não me lembro; mas era uma moeda, e tal moeda que me fez pular o sangue no coração. Raimundo revolveu em mim o olhar pálido; depois perguntou-me se a queria para mim. Respondi-lhe que estava caçoando, mas ele jurou que não. — Mas então você fica sem ela? — Mamãe depois me arranja outra. Ela tem muitas que vovô lhe deixou, numa caixinha; algumas são de ouro. Você quer esta?    Minha resposta foi estender-lhe a mão disfarçadamente, depois de olhar para a mesa do mestre. Raimundo recuou a mão dele e deu à boca um gesto amarelo, que queria sorrir. Em seguida propôs-me um negócio, uma troca de serviços; ele me daria a moeda, eu lhe explicaria um ponto da lição de sintaxe. Não conseguira reter nada do livro, e estava com medo do pai. E concluía a proposta esfregando a pratinha nos joelhos...    Tive uma sensação esquisita. Não é que eu possuísse da virtude uma idéia antes própria de homem; não é também que não fosse fácil em empregar uma ou outra mentira de criança. Sabíamos ambos enganar ao mestre. A novidade estava nos termos da proposta, na troca de lição e dinheiro, compra franca, positiva, toma lá, dá cá; tal foi a causa da sensação. Fiquei a olhar para ele, à toa, sem poder dizer nada.    Compreende-se que o ponto da lição era difícil, e que o Raimundo, não o tendo aprendido, recorria a um meio que lhe pareceu útil para escapar ao castigo do pai. Se me tem pedido a cousa por favor, alcançá-la-ia do mesmo modo, como de outras vezes, mas parece que era lembrança das outras vezes, o medo de achar a minha vontade frouxa ou cansada, e não aprender como queria, — e pode ser mesmo que em alguma ocasião lhe tivesse ensinado mal, — parece que tal foi a causa da proposta. O pobre-diabo contava com o favor, — mas queria assegurar-lhe a eficácia, e daí recorreu à moeda que a mãe lhe dera e que ele guardava como relíquia ou brinquedo; pegou dela e veio esfregá-la nos joelhos, à minha vista, como uma tentação... Realmente, era bonita, fina, branca, muito branca; e para mim, que só trazia cobre no bolso, quando trazia alguma cousa, um cobre feio, grosso, azinhavrado...    Não queria recebê-la, e custava-me recusá-la. Olhei para o mestre, que continuava a ler, com tal interesse, que lhe pingava o rapé do nariz. — Ande, tome, dizia-me baixinho o filho. E a pratinha fuzilava-lhe entre os dedos, como se fora diamante... Em verdade, se o mestre não visse nada, que mal havia? E ele não podia ver nada, estava agarrado aos jornais, lendo com fogo, com indignação... — Tome, tome...    Relancei os olhos pela sala, e dei com os do Curvelo em nós; disse ao Raimundo que esperasse. Pareceu-me que o outro nos observava, então dissimulei; mas daí a pouco deitei-lhe outra vez o olho, e — tanto se ilude a vontade! — não lhe vi mais nada. Então cobrei ânimo. — Dê cá...    Raimundo deu-me a pratinha, sorrateiramente; eu meti-a na algibeira das calças, com um alvoroço que não posso definir. Cá estava ela comigo, pegadinha à perna. Restava prestar o serviço, ensinar a lição e não me demorei em fazê-lo, nem o fiz mal, ao menos conscientemente; passava-lhe a explicação em um retalho de papel que ele recebeu com cautela e cheio de atenção. Sentia-se que despendia um esforço cinco ou seis vezes maior para aprender um nada; mas contanto que ele escapasse ao castigo, tudo iria bem.    De repente, olhei para o Curvelo e estremeci; tinha os olhos em nós, com um riso que me pareceu mau. Disfarcei; mas daí a pouco, voltando-me outra vez para ele, achei-o do mesmo modo, com o mesmo ar, acrescendo que entrava a remexer-se no banco, impaciente. Sorri para ele e ele não sorriu; ao contrário, franziu a testa, o que lhe deu um aspecto ameaçador. O coração bateu-me muito. — Precisamos muito cuidado, disse eu ao Raimundo. — Diga-me isto só, murmurou ele.    Fiz-lhe sinal que se calasse; mas ele instava, e a moeda, cá no bolso, lembrava-me o contrato feito. Ensinei-lhe o que era, disfarçando muito; depois, tornei a olhar para o Curvelo, que me pareceu ainda mais inquieto, e o riso, dantes mau, estava agora pior. Não é preciso dizer que também eu ficara em brasas, ansioso que a aula acabasse; mas nem o relógio andava como das outras vezes, nem o mestre fazia caso da escola; este lia os jornais, artigo por artigo, pontuando-os com exclamações, com gestos de ombros, com uma ou duas pancadinhas na mesa. E lá fora, no céu azul, por cima do morro, o mesmo eterno papagaio, guinando a um lado e outro, como se me chamasse a ir ter com ele. Imaginei-me ali, com os livros e a pedra embaixo da mangueira, e a pratinha no bolso das calças, que eu não daria a ninguém, nem que me serrassem; guardá-la-ia em casa, dizendo a mamãe que a tinha achado na rua. Para que me não fugisse, ia-a apalpando, roçando-lhe os dedos pelo cunho, quase lendo pelo tato a inscrição, com uma grande vontade de espiá-la. — Oh! seu Pilar! bradou o mestre com voz de trovão.    Estremeci como se acordasse de um sonho, e levantei-me às pressas. Dei com o mestre, olhando para mim, cara fechada, jornais dispersos, e ao pé da mesa, em pé, o Curvelo. Pareceu-me adivinhar tudo. — Venha cá! bradou o mestre.    Fui e parei diante dele. Ele enterrou-me pela consciência dentro um par de olhos pontudos; depois chamou o filho. Toda a escola tinha parado; ninguém mais lia, ninguém fazia um só movimento. Eu, conquanto não tirasse os olhos do mestre, sentia no ar a curiosidade e o pavor de todos. — Então o senhor recebe dinheiro para ensinar as lições aos outros? disse- me o Policarpo. — Eu... — Dê cá a moeda que este seu colega lhe deu! clamou.    Não obedeci logo, mas não pude negar nada. Continuei a tremer muito. Policarpo bradou de novo que lhe desse a moeda, e eu não resisti mais, meti a mão no bolso, vagarosamente, saquei-a e entreguei-lha. Ele examinou-a de um e outro lado, bufando de raiva; depois estendeu o braço e atirou-a à rua. E então disse-nos uma porção de cousas duras, que tanto o filho como eu acabávamos de praticar uma ação feia, indigna, baixa, uma vilania, e para emenda e exemplo íamos ser castigados. Aqui pegou da palmatória. — Perdão, seu mestre... solucei eu. — Não há perdão! Dê cá a mão! Dê cá! Vamos! Sem-vergonha! Dê cá a mão! — Mas, seu mestre... — Olhe que é pior!    Estendi-lhe a mão direita, depois a esquerda, e fui recebendo os bolos uns por cima dos outros, até completar doze, que me deixaram as palmas vermelhas e inchadas. Chegou a vez do filho, e foi a mesma cousa; não lhe poupou nada, dois, quatro, oito, doze bolos. Acabou, pregou-nos outro sermão. Chamou-nos sem-vergonhas, desaforados, e jurou que se repetíssemos o negócio apanharíamos tal castigo que nos havia de lembrar para todo o sempre. E exclamava: Porcalhões! tratantes! faltos de brio!    Eu, por mim, tinha a cara no chão. Não ousava fitar ninguém, sentia todos os olhos em nós. Recolhi-me ao banco, soluçando, fustigado pelos impropérios do mestre. Na sala arquejava o terror; posso dizer que naquele dia ninguém faria igual negócio. Creio que o próprio Curvelo enfiara de medo. Não olhei logo para ele, cá dentro de mim jurava quebrar-lhe a cara, na rua, logo que saíssemos, tão certo como três e dous serem cinco.    Daí a algum tempo olhei para ele; ele também olhava para mim, mas desviou a cara, e penso que empalideceu. Compôs-se e entrou a ler em voz alta; estava com medo. Começou a variar de atitude, agitando-se à toa, coçando os joelhos, o nariz. Pode ser até que se arrependesse de nos ter denunciado; e na verdade, por que denunciar-nos? Em que é que lhe tirávamos alguma cousa?    " Tu me pagas! tão duro como osso!" dizia eu comigo.    Veio a hora de sair, e saímos; ele foi adiante, apressado, e eu não queria brigar ali mesmo, na Rua do Costa, perto do colégio; havia de ser na Rua larga São Joaquim. Quando, porém, cheguei à esquina, já o não vi; provavelmente escondera-se em algum corredor ou loja; entrei numa botica, espiei em outras casas, perguntei por ele a algumas pessoas, ninguém me deu notícia. De tarde faltou à escola.    Em casa não contei nada, é claro; mas para explicar as mãos inchadas, menti a minha mãe, disse-lhe que não tinha sabido a lição. Dormi nessa noite, mandando ao diabo os dous meninos, tanto o da denúncia como o da moeda. E sonhei com a moeda; sonhei que, ao tornar à escola, no dia seguinte, dera com ela na rua, e a apanhara, sem medo nem escrúpulos...    De manhã, acordei cedo. A idéia de ir procurar a moeda fez-me vestir depressa. O dia estava esplêndido, um dia de maio, sol magnífico, ar brando, sem contar as calças novas que minha mãe me deu, por sinal que eram amarelas. Tudo isso, e a pratinha... Saí de casa, como se fosse trepar ao trono de Jerusalém. Piquei o passo para que ninguém chegasse antes de mim à escola; ainda assim não andei tão depressa que amarrotasse as calças. Não, que elas eram bonitas! Mirava-as, fugia aos encontros, ao lixo da rua...    Na rua encontrei uma companhia do batalhão de fuzileiros, tambor à frente, rufando. Não podia ouvir isto quieto. Os soldados vinham batendo o pé rápido, igual, direita, esquerda, ao som do rufo; vinham, passaram por mim, e foram andando. Eu senti uma comichão nos pés, e tive ímpeto de ir atrás deles. Já lhes disse: o dia estava lindo, e depois o tambor... Olhei para um e outro lado; afinal, não sei como foi, entrei a marchar também ao som do rufo, creio que cantarolando alguma cousa: Rato na casaca... Não fui à escola, acompanhei os fuzileiros, depois enfiei pela Saúde, e acabei a manhã na Praia da Gamboa. Voltei para casa com as calças enxovalhadas, sem pratinha no bolso nem ressentimento na alma. E contudo a pratinha era bonita e foram eles, Raimundo e Curvelo, que me deram o primeiro conhecimento, um da corrupção, outro da delação; mas o diabo do tambor...    


Machado de Assis



Aguardo comentários! [...] me deram o primeiro conhecimento, um da corrupção, outro da delação...

domingo, 8 de maio de 2011

"Entre les Murs" - A crise da escola

Origem: França, 2008. Direção: Laurent Cantent Este filme, como o filme brasileira Pro dia nascer Feliz, de João Jardim, revela a triste realidade do cotidiano escolar nas escolas, não apenas no Brasil. Hoje, a escola perdeu o monopólio da inculcação da cultura legítima. (LAHIRE, 2006 apud OLIVEIRA, D.A, 2009)



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Indisciplina, hipersolicitação e precarização da profissão docente

Caríssimos,

A década 2000-2010 se mostra assustadora para quem está na educação. Todos os dias, nos noticiários, temos assistido à violência de alunos entre si e entre estes e os professores. Além da violência verbal, a violência física adentrou os muros da escolas e tem se constituído num cenário de terror para todos. A escola, que antes era tida como local onde os pais poderiam deixar os filhos em segurança para irem trabalhar, passou a ser cenário de terror. A sociedade está em crise. Crise de valores, crise moral. A escola, instituição valorada, está perdendo sua identidade, e junto a ela, seu poder. Essa perda de valor, tem sido intensificada pela Reforma do Estado cuja descentralização, deixou os sistemas órfãos de provedores, estes passaram a buscar na sociedade civil e nas famílias, fontes de subsistência. A depredação dos prédios escolares, o desvio de recursos da educação, a má formação dos professores, e sua desvalorização, contribuem para que a escola seja um órgão sem normas. Desintitucionalizou-se a escola. Mas a crise vai além, num círculo vicioso. A família desestruturada, delega a responsabilidade para a escola. Esta por sua vez, destituída de seu poder, nada pode fazer quanto à transgressão. Transgressão de valores, normas e regras escolares que deveriam ser obedecidas. Segundo Weber, o Estado seria a instituição que num dado território deteria o monopólio do poder. Não faz mais parte do Estado as escolas? Não mais se aplica nestas as regras e normas? É por isso que vez ou outra, as escolas precisam chamar a polícia ou os conselhos tutelares para dentro de seus muros. É por isso que a indisciplina tomou  a vez nas salas de aula. A pedagogia por vezes, tentou dar a receita para contornar a situação: tornar a sala de aula um espetáculo mais atraente para os alunos. Ora, a escola vem perdendo espaço até nisso. Escola é lugar de aprender e ensinar. Rodeados por tantas solicitações, como preenchimentos de diários, planos de intervenção, projetos, projetos político-pedagógico, momento cívico, além de terem se tornado ilhas orçamentárias, as escolas perdem seu papel principal: o de ensinar. A perda da identidade leva professores e demais educadores à perda da identidade, à hipersolicitação, sobretudo por parte deles próprios. Nunca se viu tanto pedido de licença. Nunca se adoeceu tanto na educação. Ninguém quer ser professor. O governo Federal se vê obrigado a fazer campanha chamando os jovens para os cursos de licenciatura e enquanto isso... aumenta-se a síndrome de Burnout.

Qualidade e desempenho: desmistificando o uso desses termos

É comum ouvirmos dizer que a qualidade de certa escola é melhor que a de outra pois seu resultado fora melhor no Ideb. No entanto, desempenho e qualidade são termos tão diferentes quanto igualdade e equidade. A partir da década de 90, as avaliações externas passaram a fazer parte do cotidiano escolar. A descentralização propiciou que os Estados também constituissem sistemas de avaliação externa estadual, para aferir o desempenho de seus estudantes. Os resultados de tais avaliações, podem ou não ser divulgados, por escolas, região e estado. Normalmente, o desempenho é divulgado para a comunidade, como uma forma de tornar as escolas "responsáveis" pelo resultado dos alunos. Ao divulgar os resultados, cria-se na comunidade uma falsa ideia de "escolas de qualidade" e "escolas sem qualidade". Pensemos: o que é melhor: uma escola com todos os recursos e sem problemas de disciplina que tira 100, ou uma escola que vive cercada pela marginalidade, violência, e que tira 60? Obviamente, o contexto faz toda a diferença. É por isso que a tão propalada noção de igualdade foi alvo de discursos éticos. Afinal, verificou-se que para se obter igualdade, seria necessário passar pelo reconhecimento das diferenças. Sabendo que a sociedade é toda diversa, a noção de igualdade pode ser problemática, se todos começarem a reinvindicar suas diferenças. O que vale para um não vale, necessariamente para o outro. Portanto, diante de tanta confusão semântica, os termos mudam de igualdade de oportunidades para igualdade de resultados. Seria como atingir o mesmo foco partindo de lugares diferentes. Voltando à questão da qualidade e do desempenho, é necessário ter em mente, que as avaliações externas medem desempenho e não qualidade. A qualidade é um conceito mais amplo, que abarca vários fatores, como um fluxo regular de alunos, uma escola com infraestrutura e merenda de qualidade, uma equipe organizada, enfim, todos estes fatores, cooperam para a qualidade escolar.

Educação & Trabalho

Trabalho e educação são dois termos que andam juntos. Se por um lado o trabalho dignifica o homem, por outro, a educação lhe fornece os meios para não ser explorado. Historicamente falando, a educação era destinada apenas às elites. A questão do analfabetismo no Brasil, por exemplo, só foi colocada por motivos políticos. Quando verificou-se que a maioria esmagadora do país era analfabeta e comparou-se essa maioria em relação aos outros países, o fato acirrou os ânimos patrióticos, que começaram a se elevar pela causa da alfabetização. A questão do voto também fez com que políticas de alfabetização fossem introduzidas. A teoria do Capital Humano, na década de 70, explodiu com força total, tornando a educação em investimento, como forma de auferir retornos econômicos. Tão logo percebeu-se que o desemprego assolava até mesmo "os diplomados", a teoria foi arrefecida, sobretudo quando pesquisas começaram a demonstrar que ´para além do capital humano, a educação é influenciada por outros fatores, como o cultural e o socioecônomico. A LDB 5692/71 que instituiu a educação profissionalizante, serve para nós educadores, como uma experiência, afinal, tal lei foi instituida sem que condições de infraestrutura fossem ofertadas às escolas. Daí seu fracasso. Muitos textos falam da dicotomia da Educação no Brasil: por um lado uma educação voltada para o vestibular, por outro, uma educação voltada para o mundo do trabalho. Hoje, a educação no Brasil, se divide em dois níveis: a educação básica e o ensino superior. Entre esses dois níveis, surge uma profusão de cursos intermediários de caráter profissionalizante, e em sua maioria, privatizados. Essa salada que se tornou a educação no Brasil, tem nos levado a refletir, se esta situação não tem se convertido em reprodutora das diferenças. De um lado, uma educação de caráter geral, voltada para o vestibular. De outro, uma educação voltada para o mercado de trabalho, de forma mais rápida. É preciso fazer uma inserção na história, e verificar com a experiência passada pode ser luz para novas políticas. Afinal de contas, o país sempre inicia uma política e começa outra sobre as cinzas da anterior. É necessário refletir sobre a educação republicana que nunca se concretizou, antes de se falar em educação liberal. É necessário pensar que o Brasil é um dos paises que mais concentra a riqueza nas mãos de poucos. Essa desigualdade não pode mais ser tolerada. As políticas atuais de distribuição de recursos por aluno, intraestado, têm contribuído para melhorar a distribuição dentro dos estados. Mas, devemos nos lembrar que a distribuição entre regiões é muito desigual. Há uma grande desigualdade regional no Brasil. Portanto, há que se falar em redistribuição mais justa, conforme a necessidade de cada região. É óbvio, que o resultado de desempenho do Sul é melhor que do Nordeste. Alguém tem dúvida? Então, está na hora desses diagnósticos baseados em evidências, servirem como critério para uma distribuição mais igualitária dos recursos.

A educação começa por cuidar do meio ambiente

O trabalho

Olá amigos que acompanham esse blog. Para começarmos a falar da vida e de seus ensinamentos, vamos começar a refletir sobre o trabalho chamando para nossa reflexão, alguns adágios, provérbios e autores.

O trabalho dignifica o homem, dando-lhe condições de estar são na mente e no corpo. Como  nos diz o adágio popular, "De trabalho e experiência construiu o homem a ciência". Portanto, a educação, orientada para o trabalho, é condição para a cidadania e para a dignidade. Como bem cita Voltaire:

"O trabalho afasta de nós três grandes males, o tédio, o vício e a necessidade."

"Dado que vivemos em comunidade, cada um deve contribuir com o seu trabalho para o bem comum. O trabalho não deve ser visto apenas como meio de sobrevivência. Devemos considerá-lo também como um motivo de satisfação pessoal e como utilidade para a sociedade. Precisamos sentir que aquilo que realizamos é útil para nós e para os outros".

Por isso, um homem muito sábio já dizia:

"Vai ter com a formiga, ó preguiçoso". Prov. 6:6


E as formigas nos servem ainda para entendermos o significado tão importante de participação.





Os três talismãs

"_ Que é preciso para aprender? Perguntou um filho ao pai. _ Para aprender, para saber e vencer, respondeu o pai, é preciso buscar os três talismãs: a alavanca, a chave e o facho. _ E onde encontrá-los? Interroga o filho. _ Dentro de ti mesmo, explica o pai. Os três talismãs estão em seu poder e serás poderoso se quiseres fazer uso deles. _ Não compreendo, diz o filho cada vez mais intrigado. Que alavança é essa? _ A tua vontade. É preciso querer, é preciso remover obstáculos para aprender. _ E a chave? _ O teu trabalho. É preciso esforçar para dar volta à chave e abrir o palácio do saber. _ E o facho? _ A tua atenção. É preciso luz, muita luz, para iluminar o palácio. Só assim poderás ver com clareza e descobrir a verdade, que vence a ignorância."

Autor desconhecido